segunda-feira, abril 7

Polícia Federal de MG agride estudantes que queriam conversar sobre drogas

Resquícios da ditadura? Nada de novo, para aqueles que se dispõem a construir políticas, numa sociedade em que "fazer política" sempre foi uma prática dificultada para o cidadão comum.

Se a universidade é um local no qual o conhecimento é produzido, podemos dizer das universidades federais, mais do que em todas as outras, que o conhecimento ali produzido deve estar voltado às questões mais urgentes da sociedade, pois somos nós, contribuintes (cidadãos comuns) que sustentamos seu funcionamento.

Estas pessoas que impediram o debate sobre políticas de drogas na Universidade Federal de Minas Gerais, bem como todas aquelas que as apóiam, estão no fundo expressando que, no seu entender, as leis de uma sociedade não podem ser construídas pelas pessoas que vivem nesta sociedade. É o que pudemos entender, não é? Este ato de repressão quer reafirmar a idéia de que, ao cidadão comum, só cabe a tarefa de obedecer leis, jamais ajudando a construí-las. O que o reitor Ronaldo Tadêu Pena e a vice reitora Heloísa Maria Murgel Starling quiseram dizer aos seus alunos e alunas, é que nesta universidade não está permitindo a existência de sujeitos do conhecimento - somente de meros objetos.

Discutir sobre políticas de drogas é necessário, é urgente, independentemente das opiniões que temos sobre o assunto. Afinal, se dizer contrário (ou favorável) àquilo que chamam por aí de "legalização", sem se permitir argumentar a respeito ou debater sobre o tema, reflete a imaturidade política de um governo (ou de uma reitoria) que entendem a mera pronúncia da palavra "maconha" como um crime concreto. Este ato lamentável demonstra a própria necessidade que temos de falar sobre drogas, este tema sobre o qual todos possuem opinião formada, mas poucos têm a coragem de questionar, refletir, construir alternativas menos produtoras de violência e desigualdade. Se isto ocorreu em uma universidade, também nos demonstra o grau de sujeição destas instituições de ensino superior às estruturas de uma ditadura travestida de democracia. Quem está ganhando com o comércio ilegal de drogas, tal como fossem produtos? Quem está ganhando com tanta desinformação, e com tantos silêncios?

No ano de 2006, em Porto Alegre, conseguimos, com dificuldade, fazer um debate sobre drogas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul contando com a exibição do mesmo filme proposto na atividade na UFMG. A saber, "Grass" não é um filme de propaganda ao uso da droga: é um filme de caráter documental. Em um ritmo que opta de forma brilhante em dialogar com ironia e com sarcasmo diante da própria esquizofrenia dos discursos que sustentam a proibição à maconha, traz uma abordagem histórica da construção de políticas de proibição à planta, nos EUA. Como se não bastasse o argumento, este filme foi distribuído pela editora Abril amplamente em bancas de revista, através da revista Superinteressante.

http://www.youtube.com/watch?v=Att_OYgLDuA

O que se pode ver neste vídeo é um estudante universitário que, diante da presença da PMMG, foi detido, na falta de melhor justificativa, por "desacato à autoridade", quando justificou sua condição de estudante, de cidadão, ao querer conversar sobre drogas num debate que envolvia o filme "Grass".

O rizoma Princípio Ativo estende sua solidariedade aos companheiros de luta de Minas Gerais. Manifestamos nossa indignação a todas as pessoas que incentivaram esta ação, ou que consideram desejável sua estupidez, pois estão, em nome de suas próprias limitações e de suas vontades, impedindo que nossa sociedade saiba como lidar com o fenômeno das drogas de maneira consciente, segura e não-produtora de violência. Nós, pessoas contrárias à guerra às drogas, que por algum motivo queremos procurar as nuances que estão além da mera repressão ou da mera apologia, estamos tentando promover discussões sobre tabus entre pessoas que naturalizam o silêncio, enfrentamos a criminalização do diálogo em uma sociedade que já não se comunica.

Se você não é favorável à repressão do diálogo sobre drogas em nossa sociedade, repasse esta notícia a todos os contatos de sua lista.