Surpreendentemente, na edição de sábado passado (11/04/09) do jornal Zero Hora, rolou um comentário mais apurado, a leitores e leitoras gaúchos/as, sobre os avanços nos debates sobre políticas de drogas no Brasil. Puseram na página policial, para comentar um fato com sessenta e poucos dias de atraso. Mas, vamos lá.
Tratou-se da entrevista exclusiva, por email, com o ex-presidente FHC. E o fato que a matéria comentou foi o relatório da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, favorável ao término da guerra às drogas, no qual figura hoje o ilustre sociólogo do "esqueçam o que eu escrevi". Na entrevista, esqueceu o ex-presidente que sempre manteve o Brasil como serviçal das vontades do Departamento de Narcóticos dos EUA, não raramente indo a Polícia Federal fazer cursos de "especialização" naquele país, enquanto que agentes do DEA desfilavam livremente por aqui. O narco-dinheiro tem poder (pessoal do tráfico de armas que o diga). Mas agora que já saiu de Brasília, ele pode falar...
Tratou-se da entrevista exclusiva, por email, com o ex-presidente FHC. E o fato que a matéria comentou foi o relatório da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, favorável ao término da guerra às drogas, no qual figura hoje o ilustre sociólogo do "esqueçam o que eu escrevi". Na entrevista, esqueceu o ex-presidente que sempre manteve o Brasil como serviçal das vontades do Departamento de Narcóticos dos EUA, não raramente indo a Polícia Federal fazer cursos de "especialização" naquele país, enquanto que agentes do DEA desfilavam livremente por aqui. O narco-dinheiro tem poder (pessoal do tráfico de armas que o diga). Mas agora que já saiu de Brasília, ele pode falar...
(que ofendeu anos atrás).
A reportagem insistiu em usar a palavra liberação, como se as drogas ilegais já não fossem as mais liberadas de todas. Uma enquete no Clic RBS (do tipo "você é a favor?") também obrigou todo mundo a comentar já em cima desse equívoco. Tá errado: a droga já é liberada, justamente por ser ilegal, ou seja, sem regulação alguma.
THC se saiu bem até. Fez a linha de ser favorável à descriminalização - em especial, das pessoas que usam maconha. E defendeu como alternativa viável manter a rede ilegal do tráfico ainda operante. Ou seja: na sua opinião, a polícia estaria focada nos processos de produção e venda, ao invés de correr atrás das pessoas que usam. O que, diante da corrupção gerada pelos narco-dinheiros, não deixa de ser uma piada de mal-gosto. A não ser para os que se beneficiam da guerra urbana, claro - e que não estão na periferia, como lembramos sempre...
Pena que o contraponto da entrevista, aos leitores e leitoras gaúchos/as, foi fraco. O sociólogo Rodrigo de Azevedo falou o que tinha que falar: repressão não funciona. Mas ZH deu a última palavra, na reportagem, ao Dr. Sérgio de Paula Ramos, auto-entitulado como "adepto da erradicação do álcool entre adolescentes" [sic].
Não sabemos em que planeta ou universo imaginário certas pesquisas científicas são projetadas. Mas é certo que as pesquisas sobre drogas costumam ignorar pequenos detalhes como, por exemplo, a própria sociedade. Teorias vergonhosas, como a "escalada das drogas", com certeza saíram daí. Ignoram por completo a diversidade de relações que permeiam os usos de drogas (ilícitas ou não), passando uma idéia de que nada mais somos que robôs. O mais interesssante é que, de acordo com essa teoria, isso só vale pra algumas drogas. Bem mais difícil é ver psiquiatras falando nisso para defender proibição dos "santos remédios" da indústria farmacêutica. Não sabemos porquê. Alguém faz idéia?
Segundo Dr. Sérgio, que além de pesquisador ultrapassado, é um defensor da guerra civil, parece ser perfeitamente possível conciliar políticas sérias de saúde pública com as extorsões e corrupções próprias da ilegalidade. Mas, não satisfeito em desprezar qualquer conhecimento científico responsável, Doutor Sérgio ainda usou de profecias:
- "Se você descriminalizar, vai aumentar o consumo da maconha e de outras drogas como cocaína e crack".
A velha ladainha merece comentário. Já era o tempo (em psiquiatria, psicologia clínica e o escambau) que a teoria da escalada poderia ser vomitada assim, como profecia de situações sociais. Serve, no máximo, pra constatar uma história de vida específica (a história do fulano, ou da sicrana). Quem pesquisa o assunto e é responsável, sabe do que estamos falando. Quem curte puxar fumo não vai querer cheirar um pó assim, do nada. E vice-versa. Barato não é tudo igual. Isso demonstra um vício, sim - do ponto de vista do psiquiatra, que talvez por nunca ter trabalhado longe do conforto da salinha e dos leitos, ache que todo mundo que usa drogas é igual.
Comprovando estar por fora, disse ainda o Doutor Sérgio que o ex-presidente THC só está falando no assunto porque "estava com pouca luz sobre ele no verão, e resolveu soltar um factóide para voltar à mídia".
Nesse caso, nos resta saber porque é que outros ex-presidentes, dentre eles do México (Ernesto de Léon) e da Colômbia (César Gaviria), estariam tão preocupados em ajudar THC a voltar à mídia, com este factóide. Além, claro, dos outros vinte e tantos membros da tal Comissão Latinoamericana.
THC se saiu bem até. Fez a linha de ser favorável à descriminalização - em especial, das pessoas que usam maconha. E defendeu como alternativa viável manter a rede ilegal do tráfico ainda operante. Ou seja: na sua opinião, a polícia estaria focada nos processos de produção e venda, ao invés de correr atrás das pessoas que usam. O que, diante da corrupção gerada pelos narco-dinheiros, não deixa de ser uma piada de mal-gosto. A não ser para os que se beneficiam da guerra urbana, claro - e que não estão na periferia, como lembramos sempre...
Pena que o contraponto da entrevista, aos leitores e leitoras gaúchos/as, foi fraco. O sociólogo Rodrigo de Azevedo falou o que tinha que falar: repressão não funciona. Mas ZH deu a última palavra, na reportagem, ao Dr. Sérgio de Paula Ramos, auto-entitulado como "adepto da erradicação do álcool entre adolescentes" [sic].
Não sabemos em que planeta ou universo imaginário certas pesquisas científicas são projetadas. Mas é certo que as pesquisas sobre drogas costumam ignorar pequenos detalhes como, por exemplo, a própria sociedade. Teorias vergonhosas, como a "escalada das drogas", com certeza saíram daí. Ignoram por completo a diversidade de relações que permeiam os usos de drogas (ilícitas ou não), passando uma idéia de que nada mais somos que robôs. O mais interesssante é que, de acordo com essa teoria, isso só vale pra algumas drogas. Bem mais difícil é ver psiquiatras falando nisso para defender proibição dos "santos remédios" da indústria farmacêutica. Não sabemos porquê. Alguém faz idéia?
Segundo Dr. Sérgio, que além de pesquisador ultrapassado, é um defensor da guerra civil, parece ser perfeitamente possível conciliar políticas sérias de saúde pública com as extorsões e corrupções próprias da ilegalidade. Mas, não satisfeito em desprezar qualquer conhecimento científico responsável, Doutor Sérgio ainda usou de profecias:
- "Se você descriminalizar, vai aumentar o consumo da maconha e de outras drogas como cocaína e crack".
A velha ladainha merece comentário. Já era o tempo (em psiquiatria, psicologia clínica e o escambau) que a teoria da escalada poderia ser vomitada assim, como profecia de situações sociais. Serve, no máximo, pra constatar uma história de vida específica (a história do fulano, ou da sicrana). Quem pesquisa o assunto e é responsável, sabe do que estamos falando. Quem curte puxar fumo não vai querer cheirar um pó assim, do nada. E vice-versa. Barato não é tudo igual. Isso demonstra um vício, sim - do ponto de vista do psiquiatra, que talvez por nunca ter trabalhado longe do conforto da salinha e dos leitos, ache que todo mundo que usa drogas é igual.
Comprovando estar por fora, disse ainda o Doutor Sérgio que o ex-presidente THC só está falando no assunto porque "estava com pouca luz sobre ele no verão, e resolveu soltar um factóide para voltar à mídia".
Nesse caso, nos resta saber porque é que outros ex-presidentes, dentre eles do México (Ernesto de Léon) e da Colômbia (César Gaviria), estariam tão preocupados em ajudar THC a voltar à mídia, com este factóide. Além, claro, dos outros vinte e tantos membros da tal Comissão Latinoamericana.
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