Muito de acordo com a tradicional abordagem sensacionalista sobre drogas e voltada quase unicamente à criminalização da pobreza, agora o RBS entra com tudo nas campanhas "contra" o Crack. Muitas aspas aí, já que continuam defendendo a política do faz-de-conta: enquanto policiais se obrigam a "combater o tráfico" prendendo peixe pequeno (leia-se, todos os peixes presos são os pequenos), fotógrafos faz-de-conta ilustram o trabalho de marketing, a pobreza permanece acuada, e por sua vez os tubarões da droga (as pessoas que empregam direta ou indiretamente peixes pequenos), sorriem. É o triunfo da ilegalidade: como ganhar dinheiro fácil. Essa campanha vai gerar muitos votos e acordos. Se o faz-de-conta continuar então, será perfeito. Os banqueiros sorriem. O capital financeiro é viciado em narcodinheiro. Matéria prima é o que não vai faltar, nas fazendas latinas controladas pelo faz-de-conta, nos países produtores. Em oitenta anos de proibição, nunca faltou.
Famoso caso do chaveirinho: "A operação certamente abalou o tráfico na Grande Porto Alegre" – disse um diretor do DENARC. Ele só está cumprindo a lei. Certamente vários bondes vão abalar mesmo, pra tentar pegar o lugar desse outro. A contagem de corpos será na periferia. Segundo a mídia, repressão serve pra isso mesmo, é só para os pequenos, ou para os que fogem ao esquema. Os policiais seguem a interpretação da lei à risca. Longe de toda exposição, os tubarões do tráfico sorriem com o faz-de-conta.
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Reproduzindo o tom do faz-de-conta para outros setores (Saúde e Educação), parece que a moda é tentar salvar as almas ainda não atingidas, com uma prevenção baseada na pedagogia do terror: nem pensar. Não pense. Diga não, somente. Mas sobretudo, não pense. Pensar demais sobre o assunto dá até cadeia.
Se você disser "não", mas pensar que o Crack é uma questão de Saúde Pública e que a repressão na ponta (aos usuários e vendedores do varejo, jovens desempregados na maioria) seja algo que só piora a situação da comunidade (e de quem tá na pedra), vão dizer que você é a favor do tráfico. Se você disser "não", mas pensar que é papel do Estado acolher os usos sem qualquer espécie de punição moral, de preferência combatendo a adulteração, vão dizer que você está fazendo apologia. A maioria não consegue entender as nuances. A sede de sangue não permite pensar. Mas uma minoria sabe bem que essa ignorância toda é nece$$ária.
Se você disser "não", mas pensar que o Crack é uma questão de Saúde Pública e que a repressão na ponta (aos usuários e vendedores do varejo, jovens desempregados na maioria) seja algo que só piora a situação da comunidade (e de quem tá na pedra), vão dizer que você é a favor do tráfico. Se você disser "não", mas pensar que é papel do Estado acolher os usos sem qualquer espécie de punição moral, de preferência combatendo a adulteração, vão dizer que você está fazendo apologia. A maioria não consegue entender as nuances. A sede de sangue não permite pensar. Mas uma minoria sabe bem que essa ignorância toda é nece$$ária.
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Este cenário desolador pra inglês ver é o que a mídia escolheu como pano de fundo, na sua educativa campanha para não pensarmos sobre Crack. A solução no RS está sendo: repressão (incluindo prender, se necessário com violência), tratamento (incluindo internar, se necessário à força) e prevenção (incluindo educar pelo terror). Professores preguiçosos vão achar ótimo. Basta ensinar: nem pensar. Não pense no resto. Aliás, não pense. Legitimar isso tudo intere$$a a muita gente. Longe de toda abordagem séria, os tubarões do corporativismo na Saúde sorriem com o faz-de-conta.
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Quanto às almas que já entraram em contato com "a substância" (vale lembrar que ninguém sabe a composição de uma pedra de Crack devido à adulteração pesada e variada), quadros e mais quadros desoladores são pintados. O que os espera, segundo a RBS, só pode ser a morte ou a prisão - de preferência com uma internaçãozinha entre uma coisa e outra. Os que usam já perderam, vamos investir em outros. Como se não fosse possível a promoção do ser humano. Com isso se contentam os que se interessam no controle ofensivo da pobreza; os que desejam a manutenção da miserabilidade entre os miseráveis; e por fim os nossos requisitados "especialistas" no Mercado da Saúde.
Pensando talvez que chamar o Doutor Sérgio já costumava ser demais, chamaram o Doutor Luiz Coronel, profissional que defende praticamente tudo o que existe de ultrapassado na área da Psiquiatria. Junto com os dinossauros da porta de entrada, cada vez mais se desenha aí um time de medíocres que, por defenderem tanto a lógica dos manicômios, aparecem para nós como sendo da área do Mercado. Só pode ser. Convenhamos, de Saúde é que não se trata, quando só se fala em estatísticas ou bioquímica, e se ignoram os contextos sociais do problema. Só para constar: e depois da internação? E depois da fazenda? E depois da desintoxicação? O que vamos colocar no lugar do Crack? Redomas de vidro? Talvez os especialistas pudessem emprestar as suas.
Enquanto isso, olhamos para as alternativas... Já estão todas aí, na lei dos sistemas únicos, de Saúde e de Assistência Social (SUS e SUAS, respectivamente). Todas elas negadas, omitidas. O que uma lei nunca mudará, porém, é esta associação da mídia entre drogas e violência como resultante de processos químicos e não sociais. O que uma lei não muda é o ódio propagado contra as pessoas que usam drogas, permitindo a intolerância de abordagens punitivas ou da ineficaz imposição de tratamentos; por fim, a ignorância sobre o que influi sobre os processos de dependência. Pensar no desemprego, na desigualdade social e demais tragédias inegavelmente relacionadas às dependências dá trabalho, especialmente à consciência de gestores preocupados demais com resultados imediatos.
Trecho pinçado da própria campanha: A causa mais comum de óbito é a exposição à violência e a situações de perigo, por causa do envolvimento com traficantes, por exemplo. Diminuir a criminalização da pobreza, nem pensar.
Trecho pinçado da própria campanha: A causa mais comum de óbito é a exposição à violência e a situações de perigo, por causa do envolvimento com traficantes, por exemplo. Diminuir a criminalização da pobreza, nem pensar.