quinta-feira, setembro 10

Marijuana em intervenção urbana

Mais adequado ao nosso contexto, impossível. Em meio a campanhas marqueteiras "antidrogas" criminosas, irresponsáveis e até mesmo mentirosas, vale comentar esta bela iniciativa na cultura canábica de Porto Alegre. Um artista, apropriando um slogan famoso, trabalhou nas ruas exatamente a necessidade de diferençarmos padrões de uso entre as drogas tornadas ilícitas.  



A intervenção está chamando atenção de muita gente na região central de Porto Alegre. Algumas pessoas, principalmente as iludidas com a historinha do mundo-sem-drogas, interpretam como uma piada de mau gosto. Outras, principalmente aquelas que conhecem o universo de usos de drogas ilícitas (seja o de crack ou maconha), conseguem pegar o recado. É que não se trata de diferenciar pessoas, mas sim substâncias usadas, seus padrões de uso e de que modo a sociedade acolhe a situação. Na descrição de sua intervenção, postada no site Youtube, o autor da peça acerta ao associá-la às idéias da política de Redução de Danos.

De fato, os padrões de uso de maconha são com maior frequência considerados como usos controlados e recreativos dentro do universo de usuári@s. A respeito do crack, muitas pessoas que usam as duas drogas (crack e maconha) passam com eficácia por uma terapia de substituição. Para estas pessoas em especial, que já usam estas duas drogas e querem repensar o uso de crack, mesmo com uma terapia medicamentosa para o combate à “fissura”, nos momentos de maior dificuldade a opção pela maconha ajuda a quebrar a “fissura” pelo crack, prevenindo as recaídas. Alguns dos efeitos associados à maconha contrapõem aqueles efeitos negativos do abuso de crack, como a falta de fome e sono. E o que é melhor: quando a pessoa quiser parar de fumar a maconha e ficar “limpa” de vez, não haverão crises de abstinência (como ocorre com álcool, tabaco e o próprio crack). Obviamente, devido à ilegalidade da droga (e por isso, à sua má qualidade), o Ministério da Saúde não recomenda - mas diante dos inúmeros casos de uso problemático de Crack, esta receita faz parte do repertório de muitos trabalhadores da Saúde que lidam com a questão – não só redutores de danos, mas psicólog@s e psiquiatras pelo Brasil afora.


Cartaz se agrega à paisagem política de PoA

Ponto positivo para a intervenção, que serve como saudável contraponto às campanhas marqueteiras antidrogas, que hoje em dia (e principalmente no Sul do país), mais atrapalham do que ajudam na construção de uma mentalidade mais madura a respeito.

4 comentários:

Andrio Catilio disse...

"...e eu de buccho mais cheio comecei a pensar,
que eu me organizando posso desorganizar,...
que eu desorganizando posso me organizar..."

pior disse...

muito bom...

Anônimo disse...

Acho que só o fato de colocar a maconha do lado do crack, por parte dos ativistas pró-legalização já denigre nossa campanha.

O crack é um caso de saude pública grave, a maconha é um caso de ignorância pública grave.

Fabiano

Ricardo André Cecchin disse...

Fabiano,
tanto diferenciar substâncias psicoativas entre si é importante como diferenciar a legislação que as controla. A violência gerada, seja pelo preconceito moral, seja pela repressão policial, é resultado não da substância, mas da política estatal que proíbe o seu uso e comércio. A proibição do comércio favorece a constituição de máfias, de mercados negros (droga proibida: máfia agradecida). E é deles que advêm muitos dos problemas hoje notados tanto na segurança como na saúde pública.

Essa tal intervenção portoalegrense ao mesmo tempo que incita à diferenciação das substâncias(ignorância social comum), endemoniza o crack. Mas é válida.