Zero Hora: Quem organiza a marcha?
Princípio Ativo: Quem organiza a marcha, em Porto Alegre, é o coletivo Princípio Ativo. Princípio Ativo é um misto de grupo de estudos e movimento social surgido em Porto Alegre, no ano de 2005, com a proposta de produzir e disseminar informação e reflexão acerca de drogas e políticas de drogas no Brasil, incentivando o debate público e aberto em busca de alternativas ao proibicionismo atualmente em vigência.
Zero Hora: Qual é o propósito? Vocês defendem a descriminalização da maconha? De outras drogas também?
Princípio Ativo: Queremos, com essa manifestação, chamar a atenção, primeiramente, para a necessidade de constituição de uma esfera pública que viabilize o debate sobre políticas de drogas. Nesta esfera pública, ora inexistente, o Princípio Ativo defende a construção de uma nova política de drogas. O que se nota hoje em dia é a reprodução de um modelo de entendimento sobre as drogas e seus usos, que consideramos equivocado: o número de mortes causadas pela violência do tráfico e pela ação repressiva policial supera, em muito, o número de mortes causadas diretamente pelo uso de drogas, evidenciando ser a atual política de drogas um problema muito mais nocivo à sociedade do que o uso dessas substâncias.
Quanto à segunda parte da sua pergunta, é preciso esclarecer que o que está criminalizado não é a cannabis, mas o seu usuário. Do mesmo modo, não é o crack ou a cocaína que são considerados criminosos, mas sim as pessoas que deles fazem uso. Nesse sentido, defendemos, sim, a descriminalização dos usuários de todas as substâncias cujo uso foi tornado ilícito, por considerarmos que a proibição do uso de drogas fere os mais fundamentais direitos da pessoa humana. Se houvesse justificativa para a penalização das pessoas que usam essas substâncias, estaríamos obrigados a penalizar também usuários de álcool e tabaco.
Consideramos que a regulamentação das relações de produção, distribuição e consumo dos psicoativos tornados ilícitos é o caminho que apresenta melhores condições para a redução dos danos e riscos decorrentes do uso de drogas. A atual política, marcada pela omissão do Estado em regulamentar essas relações, contribui para uma total ausência de controle. Ao propormos a regulamentação, o que estamos propondo é justamente o oposto: a construção de uma forma, não repressiva, de regulação das relações e práticas de produção, distribuição e consumo dos psicoativos tornados ilícitos. É isto o que entendemos por "legalização".
Zero Hora: Já houve marchas anteriores em Porto Alegre?
Princípio Ativo: Não. O que houve foi, no ano passado, uma reunião de pessoas, ocorrida na sede do DCE da UFRGS, para a troca de informações e experiências visando a construção de um grupo destinado à reflexão e ação em prol de uma nova política de drogas. Este encontro aconteceu no dia 7 de maio de 2005, data mundialmente utilizada por grupos antiproibicionistas de diversas partes do mundo.
Zero Hora: No folheto que vem sendo distribuído na cidade, vocês informam que não fazem apologia do uso de drogas. No entanto, esse folheto refere o evento ora como Marcha Mundial da Maconha, ora como Marcha Mundial pela Maconha. Isso não é apologia e, portanto, crime?
Princípio Ativo: Só percebemos esse equívoco agora. No entanto, acreditamos que fica bem claro, àquele que lê o texto na sua integralidade, que nossos propósitos passam longe de qualquer forma de incentivo ou apologia ao uso de qualquer substância, lícita ou ilícita. Preocupados com a possibilidade de uma má interpretação, aproveitamos essa oportunidade para reforçar o que pensamos ter deixado claro em todos os materiais que produzimos e debates de que participamos: o coletivo Princípio Ativo defende o debate e a construção de uma nova política de drogas, não repressiva, mais justa, humana e condizente com a realidade social e cultural do nosso país. Isso não é apologia.
sexta-feira, abril 28
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6 comentários:
quero saber como participar do movimeto, sou gaúcho, moro em natal, então gostaria de ser um braço do movimento no rio grande do norte.
Olá Eduardo! Obrigado pelo apoio.
Não conhecemos nenhum movimento antiproibicionista no Rio Grande do Norte ainda. Mas certamente não estamos sozinhos nesta luta; existem muitas outras organizações sérias no país e no mundo.
Mas sugerimos: procure informações acerca dos programas de Redução de Danos aí em sua cidade. Afinal, nada melhor do que dialogar com a realidade específica de onde se vive, para tirar melhor proveito ao inserir este debate na sociedade.
Por enquanto, o que podemos fazer é colocar este debate enquanto algo válido. Estamos observando interpretações erradas do grupo na imprensa, como se fizéssemos apologia. Mas nada como um bom diálogo para colocar as coisas claramente.
Abraços!
Para adquirir uma camiseta verde (heheheh) da marcha aqui em Poa, como devo proceder???? Parabéns pela coragem, saudações. Gustavo
Concordo que cada um deve ter o direito de fazer o que bem entender com seu corpo e, principalmente, com o seu próprio dinheiro, certo? Mas e a conta da desintoxição, se for necessária, fica pra quem? Para o contribuinte que não é usuário de drogas com "finalidade recreativa"? É ele que, com seus impostos, vai patrocinar a recuperação da saúde daqueles que, por livre e expontânea vontade, se espuseram ao risco de se tornarem viciados?
Olha amigo.. eu prefiro, enquanto cidadão e contribuinte, ajudar a tratar os problemas de saúde existentes no país de uma forma eficaz, ao invés de fingir que eles não existem. E eles continuarão existindo, queiramos ou não.
Mas se você, enquanto cidadão e contribuinte, prefere doar o seu dinheiro para uma política que, além de não resolver estes problemas menores ainda é causadora de mortes diretas e indiretas, a escolha é toda sua.
É preciso dizer também, que o que torna as pessoas "viciadas", seja em drogas ou em quaisquer outros hábitos, não é somente o potencial danoso de certas substâncias.
O critério para a proibição não pode ser o potencial danoso de alguma coisa. Este argumento não se sustenta porque, em maior ou menor grau, toda substância que existe pode ser danosa, dependendo de como a administramos em nosso corpo.. até mesmo tomar água pode causar danos, se me permite o exemplo.
Porém, somente quando esquecemos um pouco este tão alarmado caráter químico/biológico das substâncias, e percebemos o contexto social e psicológico em que elas são usadas pelas pessoas, é que podemos descobrir o que é que as fazem agir de um forma "viciada" ou não, seja lá com o que for que elas estejam lidando: drogas, dinheiro, manias, paixões, etc.
Perceba, amigo, que a "guerra às drogas", como todas as outras guerras, se dá sempre de forma violenta. Para alguns esta violência se justifica. Mas, tentemos ir adiante:
Perceba, também, que as áreas afetadas por estas formas violentas são, justamente, contextos sociais e psicológicos - ou seja, a sociedade, onde vivem usuários e não-usuários, que não conseguem entender a importância de pensar nestes fatores como sendo a causa do "problema das drogas" também.
Não se deve combater "as drogas", mas sim os contextos que fazem com que o seu potencial danoso se manifeste.
Como esperar que a "guerra às drogas" solucione com os eventuais danos que elas drogas causam, se a guerra mesma ajuda a ampliá-los?
...quando os meios provocam fins contrários aos que eram originalmente desejados, é natural que eles tenham que mudar.
O problema é quando, para alguns, estes "fins indesejados" [morte, corrupção, lavagem de dinheiro, violência] parecem ser bastante "desejados".
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