sábado, maio 6

Porque a Marcha Por uma Nova Política de Drogas foi cancelada


Como vencer o oceano
Se é livre a navegação
Mas proibido fazer barcos?

Rola mundo – Carlos Drummond de Andrade


Durante a organização e a divulgação da Marcha Mundial da Maconha e Por Uma Nova Política de Drogas, que estava marcada para domingo, 7 de maio, na Redenção, o coletivo Princípio Ativo entrou em contato com diversos veículos de comunicação, a fim de informá-los corretamente acerca da natureza do ato que vinha organizando. No entanto, a veiculação de informações que não condiziam com os reais propósitos do Princípio Ativo produziu na cidade um clima de tensão e confronto completamente incompatível com os reais objetivos do Princípio Ativo.
O anúncio da manifestação como um “ato de apoio à maconha” disparou um processo de alarme pelos mais diversos setores da sociedade. Discursos sobressaltados e completamente em desacordo com todo o trabalho prévio de divulgação realizado pelo grupo se disseminaram e chegaram aos órgãos de segurança que, pressionados, se preparavam para a repressão de qualquer ato de consumo de drogas ou que pudesse ser considerado apologia às drogas (atos que, após a divulgação completamente descabida de um “apoio às drogas” por parte dos organizadores da marcha, se tornaram possibilidades concretas e praticamente inevitáveis).
Diante da total impossibilidade de garantir a segurança e a integridade física dos participantes da marcha, bem como de evitar prisões e episódios de violência em pleno Parque da Redenção, e tendo em vista a perda completa do caráter pacífico originalmente pensado para a manifestação, como fora divulgado nos panfletos, o coletivo Princípio Ativo julgou por bem cancelá-la.
Consideramos lamentável que, em uma sociedade que se diz e se pretende democrática, a questão das drogas não possa ser tratada sob outra perspectiva que não a criminalizante, proibitiva e repressora. Lamentamos que, diante do fracasso da atual política de drogas, não se possa tentar ou mesmo comunicar outras alternativas existentes para a abordagem da questão sem que se enfrente uma série de preconceitos, intimidações e distorções. Lamentamos a permanência de uma lei completamente absurda, que visa impedir qualquer forma de questionamento e livre debate sobre o problema das drogas, em busca de soluções mais eficientes do que as até agora tentadas. A lei de apologia é uma peça totalitária que sobrevive em meio a um Estado, em tese, democrático, e que se funda em critérios subjetivos. O real objetivo dessa lei é o impedimento do debate por meio da supressão da argumentação antiproibicionista. Não querem que as pessoas saibam que a regulamentação das relações de produção, distribuição e consumo de drogas pode trazer benefícios à sociedade, como a diminuição da criminalidade, o controle sobre o capital gerado por esse comércio, a capacidade de investimentos maiores na prevenção e no tratamento, a produção de informação de qualidade sobre drogas e a diminuição da corrupção. A lei de apologia, desse modo, funciona como uma censura a todos aqueles que desejam apontar para outros caminhos, mais condizentes com a realidade social e cultural do nosso país.
O coletivo Princípio Ativo reitera que não se constituiu para a promoção de atos de desobediência civil e tampouco aprova qualquer atitude violenta ou ilícita. O despreparo mostrado por diversos setores da sociedade, que não sabem como lidar com esse assunto, deixou clara, contudo, a necessidade e a urgência de aprofundamento da reflexão e do debate.
Por outro lado, conseguimos, com isso tudo, fazer com que esferas que se mostravam até então refratárias a esta discussão e que tão somente reproduziam o ponto de vista que fundamenta a atual política de drogas, cedessem espaço a outra forma de pensar o problema. Acreditamos que a manutenção da marcha e sua efetiva realização no dia 7 (com todos os conflitos que, tudo levava a crer, ocorreriam) teria produzido um fechamento ainda maior dessas esferas a qualquer ponto de vista crítico à proibição e à repressão ao uso de drogas.
Algumas portas foram, com muito esforço, abertas. Para que elas se mantenham assim cabe a todos os interessados na discussão e construção de uma nova política de drogas se unirem para a consolidação e ampliação desses espaços. O coletivo Princípio Ativo está apenas iniciando o seu percurso e anunciará, em breve, novas atividades. Está também aberto a toda forma de debate ou discussão sobre políticas de drogas, acerca das quais sustenta com firmeza a sua convicção quanto ao fracasso da proibição: ela é responsável por muito mais mortes do que o uso de drogas.



Coletivo Princípio Ativo – por uma nova política de drogas

www.principio-ativo.blogspot.com
principioativo.rs@gmail.com




É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

A flor e a náusea – Carlos Drummond de Andrade

7 comentários:

Anônimo disse...

eu estarei la

Anônimo disse...

com minha camiseta "tô doidão"
hehehe :)

Anônimo disse...

Hoje, dia 6/5/2006, na novela produzida e transmitida pela Rede Globo, Cobras e Lagartos, pelo menos duas vezes os personagens principais mencionaram estar indo "tomar uma cerveja", inclusive logo após uma das vezes alguns deles saem para trabalhar como moto-boys(!!!).
É incrível como drogas PESADAS como o álcool tenha uma abordagem tão sutil , incentivando jovens a consumirem UMA DAS drogas legais hoje controlada pelo governo, sendo que o alcool é um dos principais motivos de acidentes no trânsito.
É incrível também como certas pessoas tratam o assunto da droga, aconselho inclusive os psicólogos e analistas fazerem pesquisas nesta área, pois pessoas extremamente conservadoras têm certa "fobia" quando o assunto em discussão é a legalização, mais ainda se for legalização da MACONHA (têm pessoas que tem PAVOR dessa palavra).
Na minha opinião, a Cannabis é a única planta ATEMPORAL no planeta!!!
Argumentos:
-Estamos em pleno século XXI, os alimentos são modificados em laboratório e comercializados sem que quem consome saiba, a tecnologia é avançadíssima, o homem domina tantas tecnologias e elas são acessíveis á tanats pessoas, entretanto:
-A Cannabis continua na época da ditadura quando o assunto é legalização para uso recreativo, proibindo as pessoas inclusive de expor suas idéias sobre o assunto (atitudes típiicos da ditadura militar do Brasil)
-O Cânhamo continua na Idade média, sendo perseguida pela "Santa Inquisição", não permitindo nem que a ciência avance em áreas extremamente rentáveis (pode estar na semente de cânhamo a saída para a briga energética do próximo milênio, apesar disso, a Petrobrás prefere mandar dinheiro para Bolívia, apesar de tudo).
Quero deixar aqui meu manifesto de indignação! Como um povo pode ficar tão estagnado no tempo quando o assunto é uma flor!?!?!?!?
Nós, usuários, queremos apenas, como cidadãos brasileiros, com os mesmos direitos e deveres, ter os mesmos direitos de qualquer outra pessoa que no final de um dia extressante de serviço toma sua cerveja ou seu wisk com os amigos.
Sugiro, também ao blog Princípio-ativo o estudo de como exigir do Estado um Plebiscito para podermos dizer que vivemos em um país democrático, que não só discute as armas como também as drogas.

Anônimo disse...

Lei da apologia???
Mandem prender o Ronaldinho por apologia à Brahma na televisão.
Processem a Rede Globo por apologia à Aspirina, ou fechem a Souza cruz por comercializar um produto que não há níveis seguros para o consumo.

MACONHA->mais de 1000 anos de uso sem nenhuma morte!!(ilegal)
Cigarro->maior causador de câncer, enfizema pulmonar e outras donças!!!(Legal)
Bebidas alcoólicas->um dos maiores causadores de: acidentes de transito, brigas familiares, violência doméstica, além de muitas doenças, risco de OVERDOSE (coma alcoolico não deixa de ser uma OVERDOSE)!!!(Legal)

Que lei é essa?
Sugiro criarmos uma lei em que todos brasileiros sejam obrigados a usarem uma bola vermelha na ponta do nariz (é só o que falta mesmo).

"Não existe droga pior do que a ignorância."

Anônimo disse...

Quando uma parte da sociedade se une e se levanta exigindo seus direitos de liberdade é de se pensar que algo sério e verdadeiro está por trás disso. A sociedade desses últimos 2 séculos foi bombardeada pela idéia de que a maconha é do mal, é diabólica, é do mundo do crime, mas por mais que o façam jamais conterão a vontade do povo (falo do povo que conhece os benefícios da maconha) e não existe proibição que resolva o assunto. A maconha não só deve ser liberada, mas precisa ser liberada e cedo ou tarde o será. Para mim, a descriminalização da maconha é um assunto menor diante das desgraças do mundo atual, principalmente do nosso Brasil assolado pelas corjas de ladrões e bandidos e assassinos de todo tipo.
Por outro lado sou terminantemente CONTRA as drogas ilícitas, e tenho consciência de que a maconha não é uma delas e só é considerada uma droga ilícita porque interessa aos poderes maiores. O Canadá deu recentemente um passo a frente, e em breve será o Brasil. saiba mais em http://www.escapetocanada.ca/

Anônimo disse...

De fato, anônimo, a cannabis é uma planta que é alvo de sérias distorções e omissões. Seus potenciais industriais, através do cânhamo [têxtil, celulose, fibras] ou da aplicação medicinal da resina da planta [glaucoma, esclerose múltipla, atenuador dos enjôos decorrentes do coquetel anti-HIV ou de tratamentos de quimioterapia] são histórica e cientificamente comprovados. Já existem inclusive tentativas por parte da indústria farmacêutica de isolar alguns compostos da erva e torná-los fármacos registrados, como por exemplo o Marinol/dronabinol feito nos EUA, que nada mais é do que a molécula THC, tão demonizada por estas pesquisas que alguns médicos adoram citar, como indubitavelmente maléfica. Vale lembrar que o preço deste medicamento é caríssimo, mesmo que a resina da erva possa ser extraída sem a necessidade de processos complexos... é a boa e velha ganância desta indústria, cujos lucros, por sinal, costumam ficar atrás somente do próprio comércio ilegal de drogas e armas.

Porém, discordo de sua declaração de que "a descriminalização é um assunto menor diante das desgraças que acometem o país". A ilegalidade do comércio de drogas, que a lei nº6368/76 permite no país, faz com que todo o lucro seja revertido para o financiamento do crime organizado, bem como para os gastos com o tráfico de armas. Não há regulamentação sobre este mercado, apenas repressão e vistas grossas por parte de uma realidade explícita e cotidiana: pessoas usam drogas há milênios, e a lei foi ineficaz ao reduzir esta demanda, durante décadas de aplicação. Mas a sua proibição, por outro lado, favorece economicamente estes setores do crime, direta ou indiretamente - vale lembrar que o "tráfico" não se constitui somente de vendedores de drogas, mas também e principalmente de todas as pessoas que permitem que esta atividade se desenvolva, de forma articulada com as mais variadas instituições do estado, e que não por acaso são as que mais lucram com isso. A lavagem de dinheiro é generalizada.

É incrível como a sociedade pode ainda acreditar no discurso de alguns setores que defendem a repressão, quando estes dizem que "reprimir o usuário e tornar as drogas ilegais é necessário, pois o tráfico é sustentado por eles".

Este argumento só serve para duas coisas:

* "justificar" a proibição, que é o que torna o comércio de drogas lucrativo para o crime organizado; e

* "justificar" o clima de terror que é imposto à sociedade sobre o tema, e até mesmo de grupos pequenos como o nosso, que não obstante propõem uma discussão séria.

Através da fraca acusação de apologia, debates sobre uma nova política de drogas tentaram ser suprimidos. A quem serve esta tentativa de censura, senão ao terror sobre este tema tão delicado, que impede um melhor entendimento sobre ele?

Se a "questão das drogas" é urgente, por que certos setores se sentem tão incomodados com a presença do discurso antiproibicionista, fazendo questão de distorcer nossa verdadeira crítica? Será que perdemos a capacidade de olhar para a nossa realidade e reconhecer nossos problemas?

É preciso que haja esforço para reconhecer a essência das coisas, e a sociedade está sendo obrigada [pela lei e pelo medo gerado] a reconhecer somente a aparência delas, principalmente de uma forma distorcida.

Por isso é que a nossa questão é muito mais urgente do que se pode pensar, principalmente num país como o Brasil, onde há tamanha desigualdade social. A regulamentação do mercado hoje ilegal de drogas não será a solução para todos os nossos problemas, mas trata-se de um caminho indispensável, seja pensando em saúde pública, em segurança, em diminuição da corrupção ou em diminuição dos preconceitos com relação às práticas de determinados indivíduos com os quais convivemos.

Anônimo disse...

Oi.. eu fui um dos 52 infelizes que foram detidos pelo porte de maconha na redenção nesse ultimo domingo.. lá estava eu, só para conferir se ia rolar mesmo a marcha, da qual eu participei a um ano atras na Nova Zelandia, e onde foi vista como um movimento sério, de legalização, com muito skunk e fumaça, sem repressão ao consumo da droga em plena praça pública no centro de Auckland... Um ano depois tenho a infortunio de passar por uma experiencia traumatica aqui em Porto Alegre.. está na minha ficha policial agora, portador de 0,41 gramas de maconha, me fizeram ser agredido verbal e fisicamente, e sair algemado da redenção simplesmente por tentar argumentar pacificamente com o policial civil que me abordou despreparado.. fiquei pasmo... A imprensa sequer tangenciou o real fato ocorrido.. fiquei preso das 16h ateh as 23:30h de domingo, com mais umas 20 pessoas no Palacio da Policia.. tive a sorte de contar com a ajuda do meu tio que é policial civil (e dos brabos, mas que nao omitiria ajuda a um familiar).. o resto do pessoal passou a madrugada no xadrez.. meu amigo ficou até as 9 da manha... Que intolerancia é essa com uma pessoa que só quer aproveitar o domingo a sua maneira? Afinal a maconha já é usada a mais de 2 mil anos como substancia psicoativa.. Que crime é esse contra a natureza? uma erva que cresce da terra, uma espécie vegetal posta no mundo assim como nós seres humanos... Lá dentro fiz de tudo pra transmitir uma mensagem de tolerancia.. mas até ouvi relatos que me chocaram, vindo de um dos policiais civis, contando que também soube aproveitar a sua juventude - segundo ele: "bebendo e saindo de moto por aí que nem louco" - mas sempre dentro da lei, é claro.. Que lei é essa que só gera rancor e sustenta um modelo que leva ao tráfico, completamente impossivel de ser combatido por mera violencia? Que lei é essa que priva um estudante de biologia da ufrgs, eu, bolsista de iniciaçao cientifica pelo cnpq, que pretendia pegar no estudo no final de domingo, para trazer algo de bom pra esse país... que mal fiz eu pra sociedade em ter idéias e não me contentar com a lei estupida e intolerante... agora, quando vamos de fato deixar de nos submeter ao tráfico, a ter que entrar na boca pra conseguir o que nos faz bem, o que sabemos usar conscientemente, e que só tem a nos acrescentar? quando vamos ser capazes de manifestar nossas idéias em porto alegre? aguardo um retorno a qualquer um interessado em trocar experiencias.. e fica aqui o meu oferecimento de apoio ao trabalho da principio ativo..